sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A obscura indústria nuclear brasileira

Meu post de estréia aqui no Engenharia Ambiental. Obrigado pelo convite, Thiago.

Quando vejo a forma como as coisas evoluem em relação à implementação de mais uma usina nuclear no Brasil (Angra 3), bate uma impressão de que é um terreno que circula tanto dinheiro, que simplesmente fica quase impossível tentar lutar contra.Já foi provado por A + B que energia renovável (eólica, solar, biomassa) tem grandes vantagens sobre a nuclear. Com o mesmo investimento (falam em 8 bilhões de reais, mas especula-se que seja mais do que isso), seria obtida uma energia muito maior e empregaria muito mais pessoas. Isso já é uma realidade em várias regiões do mundo, não é à toa que vários países estão deixando a opção nuclear de lado. Isso sem falar dos grandes problemas que rondam a questão nuclear: a possibilidade de utilização da tecnologia para fins não pacíficos (ou seja: bomba nuclear, não é à toa que tantos países já a tenham) e a destinação do lixo atômico, que absolutamente não possui uma solução técnica viável e vai se tornando uma questão de grande perigo para todos. Vale dizer também sobre a tecnologia ser ultrapassada em relação às renováveis. Usinas que custam bilhões de dólares acabam gerando pouca energia para o país (apenas 2%, no Brasil).

Existem ainda outras questões que não podem ser ignoradas:

- diferente do que se prega por aí, a energia nuclear não é opção contra o aquecimento global. Já foi provado que a quantidade de usinas necessárias pra efetivamente fazer diferença seria imensa (e ainda assim comparando com termoelétricas a carvão, não com renováveis). Se hoje o mundo possui um potencial energético nuclear pra destruir o planeta inteiro, acho que nessa opção daria pra destruir a via láctea toda.

- no Brasil, o órgão que promove a utilização desta energia, o CNEN, é o mesmo que fiscaliza. Isto dá margem para que a fiscalização não seja eficaz ou mesmo confiável.

- o transporte de urânio de regiões como Bahia, Ceará e Minas Gerais é feito por rodovias, muitas vezes sem uma fiscalização efetiva. Você pode estar dirigindo na Via Dutra sem saber o perigo que o caminhão ao lado pode levar.

- os custos colocados no cálculo da construção das usinas é feito de forma errada: as usinas possuem uma vida útil de cerca de 50 anos, quando então precisam ser descomissionadas (desmontadas e todo o material retirado de circulação). É um valor bem alto, ninguém sabe ao certo a quanto pode chegar. Pode chegar a bilhões de reais, baseado em estudos que tentam medir este valor em outros países.

- outra conta controversa: parte desta energia é subsidiada pelo governo, assim fica um cálculo ainda mais injusto para se saber o real custo/benefício da energia.

- a Eletronuclear, empresa que faz a distribuição da energia, é presidida por um militar, o Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, que já demonstrou no passado interesse em que o Brasil tivesse um programa nuclear militar.

- parte da usina de Angra 3 utilizará equipamentos que já tinham sido obtidos na década de 80 e tem sido feita a manutenção anual (a um custo de 50 milhões de reais anuais). Será que vai ser mesmo seguro colocar uma peça com mais de 20 anos de idade? Isso já consumiu mais de 900 milhões de reais desde que foi adquirido.

Pois com tudo isso foi aprovada em julho último a construção da usina de Angra 3, ainda com possibilidade de que outras sejam instaladas depois em outros estados. Tem ou não algo muito estranho nisso tudo? tudo?

2 comentários:

Thiago François disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Thiago François disse...

Será um prazer ter você postando aqui Sávio. Sobre a Usina, sei pouco à respeito, mas de acordo com a sua postagem, realmente o custo/benefício com energias renováveis é muito superior à energia nuclear. Como o Brasil ainda carece de fiscalização e seriedade em quase tudo, fica aí mais uma preocupação para nós, pessoas preocupadas com o meio-ambiente.