A Antártida costumava ser citada como uma rara exceção ao aquecimento global - o único continente do mundo onde as últimas décadas haviam registrado um resfriamento médio. Essa impressão não passava de equívoco, de acordo com um novo e revelador estudo: a Antártida continental, na verdade, está esquentando no mesmo ritmo que o resto do planeta, ao menos pelo que se pode medir nos últimos 50 anos.
Os dados estão num artigo da edição desta semana da revista científica britânica "Nature". No trabalho, uma equipe americana capitaneada por Eric J. Steig, da Universidade de Washington em Seattle, e Drew T. Shindell, da Nasa e da Universidade de Columbia, parecem ter conseguido superar uma limitação antiga: a falta de dados climáticos do interior do continente antártico. É que a imensa maioria das estações climáticas da Antártida estão no litoral, o que dificulta a obtenção de informações confiáveis sobre o que está acontecendo com o clima das regiões mais próximas do pólo Sul.
"Por outro lado, nos últimos 25 anos, nós temos uma boa quantidade de dados de satélite, mas havia a preocupação de eles não capturarem exatamente as mudanças de temperatura na superfície. O que nós fizemos foi correlacionar os dados de satélite com os das estações em solo, e o que vimos é que há uma excelente concordância entre eles. Ou seja, os dados de satélite são confiáveis", declarou Eric Steig em entrevista coletiva por telefone.
Antes, a corrente predominante entre os climatologistas via um aquecimento considerável na península Antártica (a língua de terra firme e ilhas que o continente estende na direção da América do Sul) e um resfriamento predominante no continente antártico propriamente dito. Parecia que os ventos marítimos estavam levando umidade e calor para península, enquanto o interior da Antártida ficava cada vez mais isolado.
Corrente principal - "No entanto, o que nós vimos agora é que a influência predominante para todo o continente é mesmo o do aumento dos gases-estufa na atmosfera, o que está gerando o aquecimento", afirmou Drew Shindell durante a entrevista coletiva. O efeito é mais pronunciado na Antártica Ocidental, que esquentou 0,5 grau Celsius nos últimos 50 anos - ligeiramente abaixo da média mundial no mesmo período, que foi de 0,6 grau Celsius. No acumulado do último século, no entanto, a Antártica Ocidental ganharia se essa taxa foi constante nas décadas anteriores, já que o total do aquecimento lá seria de 1 grau Celsius contra 0,8 grau Celsius no mundo todo.
Já a Antártica Oriental também esquentou, mas menos, diz Steig. Ele ressalta que as duas regiões do continente são bem diferentes. "É como se a Antártica Ocidental fosse Seattle e a Oriental fosse a Dakota do Norte", diz ele - respectivamente, Seattle, na Costa Oeste dos EUA, é úmida, chuvosa e influenciada pelo mar, enquanto a Dakota do Norte tem terreno mais elevado, seco e continental, isolado do oceano, daí a comparação.
O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, órgão da ONU) dizia ver sinais claros de aquecimento causado pela ação humana em todos os continentes do mundo, "exceto na Antártida". Já dá para dizer que essa afirmação precisa ser reformulada? Os autores do novo estudo preferem ser cautelosos, já que os dados climáticos da Antártida são relativamente recentes - para ter certeza, o ideal é ter mais do que apenas 50 anos de informações. Mas a probabilidade de que o aquecimento ali também seja obra humana aumenta consideravelmente. (Fonte: Reinaldo José Lopes/ G1)
Os dados estão num artigo da edição desta semana da revista científica britânica "Nature". No trabalho, uma equipe americana capitaneada por Eric J. Steig, da Universidade de Washington em Seattle, e Drew T. Shindell, da Nasa e da Universidade de Columbia, parecem ter conseguido superar uma limitação antiga: a falta de dados climáticos do interior do continente antártico. É que a imensa maioria das estações climáticas da Antártida estão no litoral, o que dificulta a obtenção de informações confiáveis sobre o que está acontecendo com o clima das regiões mais próximas do pólo Sul.
"Por outro lado, nos últimos 25 anos, nós temos uma boa quantidade de dados de satélite, mas havia a preocupação de eles não capturarem exatamente as mudanças de temperatura na superfície. O que nós fizemos foi correlacionar os dados de satélite com os das estações em solo, e o que vimos é que há uma excelente concordância entre eles. Ou seja, os dados de satélite são confiáveis", declarou Eric Steig em entrevista coletiva por telefone.
Antes, a corrente predominante entre os climatologistas via um aquecimento considerável na península Antártica (a língua de terra firme e ilhas que o continente estende na direção da América do Sul) e um resfriamento predominante no continente antártico propriamente dito. Parecia que os ventos marítimos estavam levando umidade e calor para península, enquanto o interior da Antártida ficava cada vez mais isolado.
Corrente principal - "No entanto, o que nós vimos agora é que a influência predominante para todo o continente é mesmo o do aumento dos gases-estufa na atmosfera, o que está gerando o aquecimento", afirmou Drew Shindell durante a entrevista coletiva. O efeito é mais pronunciado na Antártica Ocidental, que esquentou 0,5 grau Celsius nos últimos 50 anos - ligeiramente abaixo da média mundial no mesmo período, que foi de 0,6 grau Celsius. No acumulado do último século, no entanto, a Antártica Ocidental ganharia se essa taxa foi constante nas décadas anteriores, já que o total do aquecimento lá seria de 1 grau Celsius contra 0,8 grau Celsius no mundo todo.
Já a Antártica Oriental também esquentou, mas menos, diz Steig. Ele ressalta que as duas regiões do continente são bem diferentes. "É como se a Antártica Ocidental fosse Seattle e a Oriental fosse a Dakota do Norte", diz ele - respectivamente, Seattle, na Costa Oeste dos EUA, é úmida, chuvosa e influenciada pelo mar, enquanto a Dakota do Norte tem terreno mais elevado, seco e continental, isolado do oceano, daí a comparação.
O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, órgão da ONU) dizia ver sinais claros de aquecimento causado pela ação humana em todos os continentes do mundo, "exceto na Antártida". Já dá para dizer que essa afirmação precisa ser reformulada? Os autores do novo estudo preferem ser cautelosos, já que os dados climáticos da Antártida são relativamente recentes - para ter certeza, o ideal é ter mais do que apenas 50 anos de informações. Mas a probabilidade de que o aquecimento ali também seja obra humana aumenta consideravelmente. (Fonte: Reinaldo José Lopes/ G1)
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