quinta-feira, 2 de abril de 2009

Educação ambiental: uma saga a ser cumprida

Por Paulo Finotti*





Hoje eu vou invadir seara alheia. Com o título acima, vou até o andar de baixo para visitar meu amigo, o Prof. Dr. José Aparecido.

Escrever sobre Educação é um desafio; escrever sobre Educação Ambiental é um desafio duplo; fazer crônica a respeito do assunto, tendo como vizinho de página um especialista como José Aparecido é um triplo desafio. Vamos lá...

Quando ocorrem simpósios e reuniões para tratar do assunto educação ambiental, em função da grande parte do público alvo estar de forma direta ou indireta ligado à educação formal, principalmente nos cursos fundamental e médio, surge a idéia dos processos acadêmicos de ensino que vão desde a materialização de uma sala de aula munida de carteiras, lousa e alguns recursos audiovisuais, até à implantação de pequenas hortas semelhantes àquelas de fundo de quintal, no pouco que resta de terra nas instituições públicas de ensino. Os menos avisados, principalmente especialistas em educação, poderão ter em mente idéias como «conteúdo programático», «estudo do caso», «estratégias de aprendizagem», «avaliação de conhecimentos», «objetivos gerais e específicos» e outros exemplos, acobertando toneladas de tinta e papel que irão acabar empoeirados nas estantes de algum fundo de prédio escolar, sem haver participado, como deveriam, dos reais caminhos do processo intelectual da melhoria da qualidade de vida. A educação ambiental é muito mais dinâmica, apresentando conceitos macroscópicos que utilizam o estado da arte para serem realizados.

O ser humano comum, escolarizado ou não, criança, jovem, adulto ou idoso, é comumente o alvo direto do processo de educação ambiental que deverá constar no seu currículo de vida e não no escolar, principalmente, repassado às futuras gerações de forma ampla e natural.

Como é de se notar, independentemente do meio físico, flora e fauna, o ser humano, por questões óbvias, é o colimador do processo de educação ambiental. Como ser biológico que é, traz a si e a tudo que o rodeia para a Biologia; gregário, cria a sociologia e geografia política entre outras ciências ditas humanísticas; ser pensante, interpreta os fenômenos que o envolvem, traduzindo-os por meio de leis e princípios científicos, montando modelos matemáticos, físicos e químicos, preparados para fazer previsões; criativo, envolve-se em toda sorte de alterações, desde as comportamentais, ditas evolutivas, até ambientais, criando uma verdadeira armadilha à sua própria sobrevivência e à do planeta.

O ser humano é o maior predador da natureza e uma das primeiras vítimas de seu próprio comportamento, havendo descoberto, embora tardiamente, que caso não o altere, será brevemente extinto, como o será também a biosfera.

Esta recente descoberta faz com que ocorram mudanças nos critérios de vida, tecnologia e atitudes, mudanças estas que podem ser interpretadas mais como uma tentativa egoística de perpetuação da espécie do que o de apreciar e respeitar o planeta em que vivemos.

No período de 14 a 26 de outubro de 1977, realizou-se em Tbilisi - Georgia, a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental organizada pela Unesco em cooperação com o PNUMA, talvez o fórum mais importante sobre o assunto até hoje reunido. Tal colegiado apresentou uma Declaração e 41 Resoluções

A Agenda 21, em seu capítulo 36, aborda de maneira quase exaustiva as estratégias, planos políticos, previsões e progresso do que chamou “Promoção de Educação, Conscientização Pública e Treinamento Envolvendo a Educação Ambiental”, em um processo global e biunívuco com o desenvolvimento sustentado. Acontece, no entanto, que até o momento, pouco ou nada se tem feito para a concretização de tópicos da referida Agenda, tais como: a reorientação da educação na direção do desenvolvimento sustentável; a ampliação da conscientização pública; o incentivo ao treinamento.

Assim é que o ambientalista, seja especialista em educação, educador, ou mesmo curioso no assunto, acaba se transformando em um bombeiro que tenta apagar o fogo de um terreno turfoso. Mal ele pensa ter eliminado a combustão em um setor, a fumaça retorna de outro, cujo fogo era considerado extinto. Tal situação é no mínimo desgastante, prejudicando todos os envolvidos, na medida em que não há progresso.

Outro aspecto importante que é com frequência esquecido, principalmente pelo poder público - um dos principais envolvidos no processo, é que a maior parte dos projetos ambientais, e entre eles se inclui a educação ambiental, é elaborada por voluntários cujas “horas cívicas” muita vez suplantam as remuneradas e pelas ONGs que, quando honestas, mal conseguem se sustentar nas pernas. Tal esforço causa dispêndio de tempo e energia que poderiam ser melhor aproveitados, bastando haver um plano diretor, vontade política e subsídios a quem mereça e/ou necessite.

O que é educação ambiental? Uma tentativa de definição.

Podemos definir educação ambiental como sendo o conjunto de atitudes macroscópicas capaz de alterar o comportamento do ser humano no sentido de conservação, preservação e recuperação ambientais no sistema em que ele vive.

Pouco científica, mais para o pragmatismo e holística, tal definição mostra a necessidade permanente e global da presença da educação ambiental em todas as atitudes a serem tomadas, desde o comportamento da mãe cuidando de seu bebê dentro de uma residência, até as tomadas de decisão mundiais por chefes de estado ou seus prepostos.

Como Realizarmos a Educação Ambiental Plenamente

De quatro em quatro anos, todos os municípios brasileiros têm a posse de novos prefeitos e renovação parcial das Câmaras Municipais. A mentalidade política voltada a um comportamento ambiental é colocada em praticamente todas as plataformas e programas dos prefeitos eleitos.

Considerando que o grande fórum de discussão dos problemas da comunidade brasileira é o Município, onde tudo se inicia, e é burilado passando a seguir ao Estado e União, quando necessário, o simples fato de a sociedade, organizada ou não, cobrar o cumprimento das promessas de palanque, já demonstra a realização do processo de educação ambiental.

* Paulo Finotti é Químico Industrial Modalidade Engenharia Química, Professor Universitário, Presidente da Sociedade de Defesa Regional do Meio Ambiente – SODERMA, ex - conselheiro do CONAMA (1996-2002) e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo e da Ordem dos Velhos Jornalistas de Ribeirão Preto.

Fonte: Envolverde / Celulose Online.

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